quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O ANJO EXTERMINADOR por Bruna Therolly


 O ANJO EXTERMINADOR- LUIS BUÑUEL
Buñuel por Dalí...

Sinopse:  Depois de uma festa, os convidados simplesmente não conseguem deixar o local, sem que haja uma explicação racional para isso. Conforme o tempo passa, as máscaras dos antes bem relacionados começam a cair e revelar suas verdadeiras e mais profundas facetas.
cineplayers.com

INÍCIO
Começo com a sinopse para poder partir daqui. Pois se me perguntassem como é o filme ou o que é. Eu diria que é o filme que É. Simplesmente é.
Nas discussões com os célebres colegas da aula de história de cinema na Oswald de Andrade, Falou- se bastante do contexto histórico do filme, e eu preferi  ouvi-los, pois parecia que nem vimos o mesmo filme, tamanha a subjetividade que ele oferece. E parece ser claro demais, já por este motivo de contexto, mas não nos convence de que se é apenas isto. Felizmente alguém disse que se o filme de Buñuel era apenas uma crítica a sociedade, era pobre demais. Talvez daí o não convencimento de o filme tratar- se somente de uma crítica a sociedade burguesa.

SENSAÇÕES
Tive três fases de sensações com o filme.
Antes, Durante e Depois.
O ANTES se mostrou durante o filme, tudo o que eu acreditava ,estava ali roteirizado, decupado e filmado.
DURANTE- Tive vontade de cutucar alguém ao lado e dizer “Isso é tudo o que se há”
Não só as mazelas sociais, não só o experimento de abaixar a burguesia, não só os sentimentos de prazeres, nem isso tudo em cada lugar. É o cerne de tudo isso em um ponto só.
É o que tem na linha tênue entre o ar e os vãos, é a própria linha.
 “Há mais mistérios no mundo do que supõe a vã filosofia”- O filme é todo esse mais e toda suposição da vã filosofia.
DEPOIS- Tive uma conversa com os célebres professores, falando de outro filme. E por causa deste filme, fiquei  reverberando algumas coisas que queriam fazer sentido e não achava espaço. Mas depois de ver o filme e ele ativar essa minha sensibilidade ao “inconsciente ativo”  Me lembrei de algo, que sempre passeava pela minha memória como algo trivial.

O BICHO
O bicho em frente ao vidro.
Eu era ele o tempo todo!
Explico: Numa viagem, a Minas Gerais, de ônibus, eu com 12 anos, percebia  ao meu lado, na janela, um bicho (que não sei o nome,parecia uma baratinha) que ora voava ,ora andava pelo vidro da janela do ônibus. Andou ao meu lado e do lado da janela, talvez numa manobra para voar, parou em frente ao seu próprio reflexo no vidro. Parou. As anteninhas balançavam, mas permaneceu lá, a viagem toda, parecia não conseguir sair dali. Lembro-me de achar graça, e volta e meia, certificar se ainda estava lá e também me perguntar por que é que não saía de frente do vidro. Falei disso algumas vezes, em assuntos de fatos inacreditáveis, bicho com atos aparentemente racionais.
O bicho era eu.
O filme de Bunuel era eu.
Se o filme é (como eu disse )e eu sou. O filme sou eu.  Represento aqui o ser, não quero parecer detentora  da magnificência de Buñuel, Você, que sou eu, também é o filme e o bicho do vidro.
Por que o filme É?
Porque é tudo que há, não sei se no mundo, pois mundo é pequeno demais, talvez Universo. (que também é pequeno, mas a palavra é maior)
Antes de ver o contexto Histórico e a crítica social, Vi o desejo.

DESEJO
O professor havia dito algo sobre o que era desejo para Buñuel, algo que não prestei muita atenção e por isso, esquecido. Porém, O “formato” do enredo me pareceu uma alegoria deste sentimento. O desejo por algo impossível de se alcançar. Eu abracei esta hipótese, por esta leve lembrança e pelas dicas no filme.  Posso até ousar a fazer um paralelo.
No começo é confortável, sedutor (boa música, boa bebida, pessoas). Depois divertido, excitante(Acordam, acham divertido tal situação) Depois estranho (incômodos), Depois insuportável(perda das boas maneiras), Depois desespero (fome,sede) Depois como solução quer- se voltar ao que se era, para daí não se entregar. E desejo é fome, é sede. Sacrifica-se pelo desejo. Um personagem dá esta fala: “Parece que sempre estivemos aqui e sempre estaremos, a menos que fujamos você e eu”. Se desejo suporta-se , parece estar habituado a ele e ter a capacidade de  sempre estar, a menos que se fuja, os dois. Pois  se o desejo por algo impossível é impedido por algo, longe deste algo, é Livre. E deixa de ser desejo, se consumado.

ESPERANÇA
Portanto desejo se parece com esperança, esta, bem nítida no filme.
E esperança, o pior dos males, é inútil. É como “Fiado, só amanhã” A esperança acomoda e talvez seja um pilar que justifique  o contexto histórico do filme. Acomodaram-se na esperança e ficaram vítimas de um sistema de ditadura, onde quem esta fora deste sistema, sabia-se “melhor”. E se a partir daí, quiser experimentar  a burguesia despir-se de todo seu bom senso,sua ética,seus valores, trabalharem só com instinto,se igualarem ao proletariado, (pois não há condições de ser civilizados em tal situação)Aí , é que parece que Buñuel gostou ou quis chegar. 

SONHO
Depois que só o instinto está em voga, O que há?  Depois e não durante, pois durante nós vemos no filme, (mata-se e “morra-se”) Suponho que seja aqui, que está a graça e o não- convencimento que esta obra trata-se pura e simplesmente de uma crítica social, pois se surrealismo, a pintura, baseava-se nos sonhos, no que parecia não fazer sentido, parece que depois do instinto é só o chamado “inconsciente” que trabalha, O inconsciente é desprovido de ética, valores ou bom senso e é LIVRE, Vaga por onde quer, é uma mão solta, sem membros, apalpa o que quiser. O ilógico é lógico. É porque é.
 Os sonhos (de dormir) loucos dos surrealistas, os sonhos loucos que temos somos nós mesmos, não se sonha para o outro.
E se quando está sonhando, sou uma mão sem membros apalpando qualquer imagem registrada em minha memória (ato que pode ser interrompido por algo externo, uma facada entre os dedos ou gritos, por exemplo.) a liberdade do inconsciente, do ilógico faz o sentido da nossa alma, do ser. O inconsciente que detectamos/ reconhecemos, somos nós mesmos.
Talvez eu esteja dizendo que o filme é tudo isso que disse, Pois me vi nele, e talvez não possa fazer nenhum sentido para você, que seu inconsciente ativo reconhece-se em outras coisas, Mas todos partimos da mesma essência de SER.
Eu SOU.
O bicho É.
O bicho SOU eu.
O filme SOU eu.
Tudo o que Há, É.
O filme É.




Marvada Carne- André Klotzel

" O melhor de ver filmes,quando você não está realizando-o é roubar umas idéias de planos, (Por exemplo,camêra no chão e personagem pulá-la, em situação de triunfo). Simples, mas adequado. Aliás Simples deve ser a palavra que rege o filme Marvada Carne de André Klotzel, que resulta em mim a vontade de chegar mais no âmago brasileiro, a  simplicidade desses habitantes, simplicidade esta, que significo ser a ausência de ambições consideradas grandes, Se eu chegar mais neste âmago e me aprofundar mais, Encontro o que todo mundo é , uma lei universal, o desejo de ser feliz. Óbvio isso, Eu sei. Mas não é bonito como tudo o que é universal não deixa de ser, mas se compõe em outra roupagem? O enredo trata-se de  Nhô Quim,um homem do interior de São Paulo, Contando um "causo" a sua família sobre o desejo de comer carne de boi e como isso o ocupou em momentos de sua vida. Ou seja, O desejo de ser feliz caracterizado em cada povo, cada contexto histórico, costumes tradicionais, Em Marvada Carne é captado o melhor do Brasil, com a singularidade que temos, o povo do interior e suas faces, crendices populares, curupira, contação de causos  como nariz colado ao contrário, além de mutirão para construção de casebres, a fé ingênua e bem representada por Fernanda Torres em Carula, que sonha em se casar e não larga do pé de Santo Antônio que é vítima de suas reações e até se manifesta de vez em quando. Não só essa fé, mas negociações com Diabo e muito mais.
Marvarda Carne é um belíssimo filme para ser visto. 
Nossas retinas cinematográficas fazem as pazes com o belo Brasil representado."
blog:brunatherolly.blogspot.com

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