segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Festim Diabólico por Marcelo Moura Batista

MARCELO MOURA

Brandow Shaw é realmente um psicopata ?

Psicopatas são conhecidos por serem “eloqüente, sedutor e manipulador”, com o agravante de não sentirem medo ou qualquer tipo de compaixão com o outro. Todas características marcantes na personagem de Brandow Shaw (James Steewart).

Para certificando se realmente a personagem é um psicopata, utilizamos a tabela criada pelo psicólogo Robert Hare para facilitar identificação de possíveis psicopatias. Em seu trabalho ele  apresenta doze características típicas de psicopatia, que devem ser somadas para determinar o possível grau do transtorno de personalidade. Das características aprestadas podemos facilmente notar nove: Boa Lábia, Ego Inflado, Lorota Desenfreada, Sede por Adrenalina, Impulsividade, Comportamento Anti-social, Falta de Culpa, Sentimentos Superficiais, Falta de Empatia (com o próximo). Duas características são difíceis de julgar dadas as informações apresentadas no filme: irresponsabilidade e má conduta na infância.

Não apresentando nitidamente apenas uma: Reação Estourada. A quantidade de características apresentadas, permite classificá-lo com alto grau de psicopatia.
Buscando mais esclarecimento sobre que tipo de psicopatia Bradow sofre, procuramos adequá-lo aos modelos propostos por Theodore Milan (Psicólogo de Harvard), que classifica de acordo com outros desvios de personalidade. Entre os modelos apresentados, ele se facilmente se classifica no  “defensor da reputação”. Tipo de psicopata que carrega fortes traços narcisistas e normalmente se comporta como uma espécie de “macho alfa”. Que ajudaria a explicar sua fixação pelas teorias de Nietzsche, de onde legitimava sua “superioridade” perante os outros homens, estando acima das leis da polis.

No entanto tais justificativas filosóficas não funcionavam como mecanismo de defesa psíquica (Racionalização) como poderia ocorrer com uma pessoa normal (não psicopata) para justificar seus feitos criminosos. Livre de apego ao “Contrato social” a teoria além de acariciar seu ego que provavelmente o julgava um verdadeiro Übermensch (O super homem de Nietzsche) servia como uma luva para tentar obter seguidores para seus atos nefastos. Funcionando perfeitamente com seu “amigo” Phillip Morgan (Farley Granger), que certamente precisaria de tais justificativas por não ser psicopata - Condição em seu caso facilmente descartada por demonstrar remorso e medo – e que tentaria aplicar com seu antigo professor: Rupert Cadell (James Stewart) de qual assimilou as teorias que trouxe para a materialidade.

O motivo mais provável que o levou arquitetar e cometer o crime e o ousado ritual que o seguiu. Deixa o assassinato ainda mais aterrorizante: o Tédio. Sensação que segundo alguns especialistas atormentam inúmeros psicopatas que chegam a cometer assassinatos apenas para fugir da monotonia. No caso de Brandow Shaw, também a forma que encontrou de provar sua superioridade. A elaboração do crime perfeito, elaborado da forma que o fornecesse a maior quantidade de adrenalina possível, um verdadeiro “Festim diabólico”.


A Memória a Serviço do Suspense
Hitchcook é conhecido e lembrado até hoje como o grande mestre de suspense, título que pertence ao senso comum mundial, até mesmo por quem nunca viu um único filme do diretor. Fama que ultrapassa décadas, dado o seu extraordinário talento e a capacidade de trabalhar o subconsciente de seus espectadores.

Entre tais capacidades, temos a estratégia de condicionar os sentimentos do expectador a objetos mundanos, típicos de nosso cotidiano. Em suas mãos: isqueiros, óculos, bonecas, se tornam “gatilhos” capazes de evocar o sentimento desejado cada vez que o objeto retorna a tela.

Técnica que  Carriére denomina “memorização da imagem”, que segundo o autor é mais forte e duradora que a palavra. Ao ponto de podermos assistir o filme e esquecermos completamente da história, mas dificilmente esqueceremos do objeto escolhido por Hitchcook para marcar sua obra.  

Analisando, como exemplo, o filme “Festim Diabólico”temos uma corda, que também nomeia originalmente o filme (“rope”, corda em inglês), que será apresentada no inicio do filme como a arma do assassinato e que ira retornar inúmeras vezes a tela, ampliando a cada ressurgimento a angustia do expectador, relembrando sua “cumplicidade” perante o crime.
A quem duvidar dos “terríveis poderes” mnemônicos do mestre do suspense, fica o desafio de assistir outros clássicos do diretor e verificar o “poder” que tais objetos podem despertar aos seus sentimentos e quem sabe nunca mais ver alguém segurando uma gravata com os mesmos olhos . 

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