(Para primeira e última aula de análise fílmica e história de Cinema- Oficina Oswald de Andrade)
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Azul e Onde está o Cinema?
(Para primeira e última aula de análise fílmica e história de Cinema- Oficina Oswald de Andrade)
O ANJO EXTERMINADOR por Bruna Therolly
Buñuel por Dalí... |
Marvada Carne- André Klotzel
" O melhor de ver filmes,quando você não está realizando-o é roubar umas idéias de planos, (Por exemplo,camêra no chão e personagem pulá-la, em situação de triunfo). Simples, mas adequado. Aliás Simples deve ser a palavra que rege o filme Marvada Carne de André Klotzel, que resulta em mim a vontade de chegar mais no âmago brasileiro, a simplicidade desses habitantes, simplicidade esta, que significo ser a ausência de ambições consideradas grandes, Se eu chegar mais neste âmago e me aprofundar mais, Encontro o que todo mundo é , uma lei universal, o desejo de ser feliz. Óbvio isso, Eu sei. Mas não é bonito como tudo o que é universal não deixa de ser, mas se compõe em outra roupagem? O enredo trata-se de Nhô Quim,um homem do interior de São Paulo, Contando um "causo" a sua família sobre o desejo de comer carne de boi e como isso o ocupou em momentos de sua vida. Ou seja, O desejo de ser feliz caracterizado em cada povo, cada contexto histórico, costumes tradicionais, Em Marvada Carne é captado o melhor do Brasil, com a singularidade que temos, o povo do interior e suas faces, crendices populares, curupira, contação de causos como nariz colado ao contrário, além de mutirão para construção de casebres, a fé ingênua e bem representada por Fernanda Torres em Carula, que sonha em se casar e não larga do pé de Santo Antônio que é vítima de suas reações e até se manifesta de vez em quando. Não só essa fé, mas negociações com Diabo e muito mais.
Marvarda Carne é um belíssimo filme para ser visto.
blog:brunatherolly.blogspot.com
domingo, 19 de dezembro de 2010
Garrincha não foi melhor jogador que Pelé. Mas Garrincha com certeza é o mais brasileiro de todos os nossos craques. Dentre todos os saídos de favelas, oriundos das classes mais baixas, dos descamisados e descalços – nenhum se compara quanto ao “brasilismo” a Garrincha. As imagens do documentário “Garrincha, alegria do povo” (Joaquim Pedro de Andrade, 1962) – trazem ao espectador a condição lírica do craque em campo. Garrincha nascido Manoel, logo tornou-se pela informalidade brasileira Mané, tal qual Luis, torna-se Lula. “Mané” é o mesmo que bobo, e bobo chamamos “João” – nome pelo qual Garrincha chamava qualquer de seus marcadores e adversários – do beque de jogo de fim de ano de empresa à um Nilton Santos ou Luis Pereira. Garricha é assim tão brasileiro porque leva a vida no improviso, tal qual todo brasileiro – sem eira nem beira, planejamento ou preocupação. Essa característica diferencia-nos do futebol científico e burocrático da Europa, deu-nos uma cara, e essa cara é toda ela Garrincha. “Garrincha nunca precisou pensar. Garrincha não pensa. Tudo nele se resolve pelo instinto, pelo jato puro do instinto”[1] – o que o brasileiro faz quando o mês é mais longo do que o dinheiro? Inventa algo. Tira do bolso alguma saída mirabolante, e Garrincha faz o mesmo para penetrar zagas como paredões intransponíveis (veja a gama de dribles durante o documentário). Garrincha não humilha os adversários pela soberba ou pelo regozijo, mas sim pelo instinto – a humilhação não é a meta, sim a conseqüência. O faz como late o cachorro. Mané vê a todos com igualdade de um “joão” – com a pureza de um eterno menino – a isso o historiador Sérgio Buarque de Holanda chamou de “homem cordial”. Garrincha morreu na pobreza, mas ainda sorridente – com o mesmo sorriso do auge de seu esplendor (o momento que trata o documentário), e nisso ele também se transforma em espelho do Brasil, humilde, pacato, cativo a sua condição e pobre. Entretanto precisa apenas de um Botafogo versus Flamengo para Mané compensar a todos os brasileiros de suas humilhações pessoais e coletivas.[2] Sim, o brasileiro precisa de pouco para ser feliz (que é muito), apenas de diversão, de magia, de dribles e fintas – seja num mundo imenso de fantasias ou num trecho qualquer do campo, já que “para um drible de Garrincha, a superfície de um lenço era um latifúndio”[3]. O filme é documentalmente muito bem pesquisado, intercalando diversos momentos do craque – captando-o do final dos anos 50 até a o início dos anos 60, no auge de sua carreira que culminaria com a conquista hercúlea da Copa do Mundo do Chile no ano do documentário,
[1] RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais. São Paulo: Cia. das Letras, 1993. p. 63.
[2] RODRIGUES, Nelson. Idem. p. 120.
[3] NOGUEIRA, Armando. O canto dos meus amores. Rio de Janeiro: Ed. Dunya, 1998. p. 11.
[4] NOGUEIRA, Armando. Idem. p. 13.
[5] RODRIGUES, Nelson. Idem. p. 63.
[6] RODRIGUES, Nelson. Idem. p120.
[7] WISNIK, José Miguel. Veneno remédio: o futebol e o Brasil. São Paulo: Cia. das Letras, 2008. p.276.
[8] CASTRO, Ruy. Estrela solitária – um brasileiro chamado Garrincha. São Paulo: Cia. das Letras, 1995. p.483.
quinta-feira, 16 de dezembro de 2010
Garrincha, Alegria do Povo por Bárbara Borges
Alegria. Tristeza. Emoção. Futebol. Gênio. Bravura. Autoridade. Malícia. Inocência. Brasil. Isso é Garrincha. Isso é futebol. Em Garrincha, alegria do povo (1962), o cineasta Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) intensifica, com fotos, as emoções desencadeadas pelo futebol nos torcedores, em um período em que contratos milionários entre jogadores e grandes clubes estavam longe de acontecer e o que valia de fato era a beleza com que eram feitas as jogadas.
Para falar de futebol, o diretor apropria-se da figura de Manuel Francisco dos Santos (1933-1983), o Mané Garrincha, um jogador bem acima do normal, elogiado pelo grande público que o vê como sendo quase um herói. Mas ele é um herói contraditório: apesar de salvar o futebol da mediocridade, é um herói alcoólatra, é um herói com tendência a engordar, é um herói que está sempre cansado, é um herói que não gosta de trabalhar... Ai, que preguiça!
Divindade do futebol? Ricos e pobres, nobres e plebeus, políticos da situação e da oposição: em procissão, todos procuram por Garrincha. Mas que Garrincha? Garrincha tem muitas faces. Se em seu olimpo, o campo de futebol, parece ser um deus, fora das quatro linhas nada mais é do que o mortal Manuel, aquele menino pobre que, quando nasceu, ouviu de um anjo torto: “Vai, Mané, vai ser gauche na vida”. E parece que entendeu tão bem que até com pernas tortas chegou ao mundo!
Garrincha, alegria do povo
(1962)
Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Roteiro: Luiz Carlos Barreto, Armando Nogueira, Mário Carneiro, Joaquim Pedro de Andrade, David Neves
Gênero: documentário
Origem: Brasil
Duração: 60 minutos
Garrincha, Alegria do Povo por Edgar Bueno e Gustavo Camargo
"O filme documentário de Joaquim Pedro de Andrade, (1962), primeiro documentário brasileiro sobre um esportista e que ganhou o Prêmio Carlos Alberto Chieza, no Festival de Cortina D'Ampezzo, Itália 64, trata mais do futebol como um todo, das sensações e emoções que ele provoca nas pessoas, do que de um personagem em si, o gênio Garrincha.
Trata da pessoa, do menino simples de pernas tortas que adorava jogar bola. Não mistifica nem idolatra, pelo contrário mostra o lado humano e familiar, mostrando as origens e raízes de Garrincha do Botafogo e da Seleção Brasileira. Porém, de forma sutil, o autor deixa clara a importância que esse jogador teve em sua sua época, mostrando uma foto dele ao lado de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil. Algo inimaginável para uma pessoa simples, um mau operário, nascido em Pau Grande, distrito de Magé (RJ).
Aproveitando-se de imagens produzidas pelos meios de comunicação, bem como as realizadas por cinegrafistas amadores, fragmentos da realidade são especialmente escolhidos, mostrando “closes” de anônimos, pernas, dribles, fortes emoções...
http://mais.uol.com.br/view/236410
De maneira brilhante e revolucionária o autor criou uma nova linguagem e forma de mostrar um jogo de futebol colocando 5 câmeras dentro do estádio, pois somente assim, seria capaz de registrar todos os movimentos e dribles desconcertantes e seus belos gols.
http://www.youtube.com/watch?v=7Myviztka3M
Todos estes elementos, na verdade, são colocados com o objetivo de documentar a alegria do povo em torno do futebol, que teve em Mané Garrincha um dos seus maiores expoentes. As reações das pessoas à presença de Garrincha nas ruas, dos torcedores acompanhando as jogadas são bastante fortes, e significativas.. Tais cenas têm seu apogeu em 62 quando Garrincha volta ao Brasil com a taça de Bi-Campeão Mundial, título do qual ele é o maior responsável pela conquista, já que o Rei Pelé se machucou ainda na primeira fase.
Porém o filme não lida somente de alegria, e sim de emoções que o futebol provoca. Para tanto o autor não poderia deixar de lado o pior episódio a história do futebol nacional – a derrota na copa de 50 para o Uruguai em pleno Maracanã – toda a tristeza e frustração dos Brasileiros diante daquela situação. A cena mais marcante dessa parte do filme é ver o maior estádio do mundo, construído especialmente para essa Copa do Mundo vazio e com um fúnebre silêncio após a derrota. Intrigante!
Ao final, de forma inconclusiva, e numa tentativa de explicar o que leva àquelas fortes emoções, o autor lança duas possíveis “teorias”. Por uma, a bola, e seu formato redondo, nos remeteriam às primeiras emoções relacionadas ao ventre materno. Assim, acompanharíamos as jogadas, subliminarmente nos remetendo aos primeiros e básicos sentimentos humanos.
O outro possível fundamento para a causa da importância do futebol seria baseado na necessidade de “exorcizar” nossas frustrações diárias. Assim, semanalmente assistiríamos às partidas de futebol para descarregar nossas emoções e frustrações, restabelecendo a necessária alegria para enfrentar o triste cotidiano."
Garrincha, Alegria do Povo
(Garrincha, Alegria do Povo, 1962)
• Direção: Joaquim Pedro de Andrade |
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Os mais desavisados podem pensar que o filme trata de um sabá de bruxas – uma festa diabólica, mas não é desse diabolismo que o título se refere. O título original é Rope (Transatlantic Records, 1948) – em inglês corda – pois David, um dos personagens, é estrangulado com uma corda por dois jovens intelectuais. O traço macabro que perpassa boa parte da obra de Hitchcock, se dá nesse filme, pelo fato desses dois jovens ocultarem o cadáver em uma urna e depois fazer dela uma mesa de jantar em uma festa. Daí o título
[1] ARMANDO, Carlos. A sala dos sonhos. Belo Horizonte: C/Arte editora, 1999. p. 164.
[2] BAZIN, André. O Cinema – ensaios. São Paulo: Brasiliense, 1985. p. 136.
[3] FRUNDT, Bodo. Alfred Hitchcock e seus filmes. Rio de Janeiro: Ediouro, 1992. p. 115.
[4] VEILLON, Olivier-René. O cinema americano dos anos cinqüenta. São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 110.
[5] NIETZSCHE, Friedrich. A Gaia Ciência. São Paulo: Martin Claret, 2003. p. 37.