quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Garrincha, Alegria do Povo por Bárbara Borges

Garrincha, um herói sem nenhum caráter

"O documentário de Joaquim Pedro de Andrade consegue transmitir a emoção que o futebol causa no povo brasileiro. Como personagem principal está Garrincha, o gênio indomável da bola que, com suas pernas tortas, quando entra em campo assume toda a sua divindade e faz o Brasil parar. Com toda sua bravura, malícia e autoridade, Garrincha marcou uma época em que futebol era pura alegria ou tristeza. E nada mais."
Eny de Oliveira, 8/12/2010

Alegria. Tristeza. Emoção. Futebol. Gênio. Bravura. Autoridade. Malícia. Inocência. Brasil. Isso é Garrincha. Isso é futebol. Em Garrincha, alegria do povo (1962), o cineasta Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988) intensifica, com fotos, as emoções desencadeadas pelo futebol nos torcedores, em um período em que contratos milionários entre jogadores e grandes clubes estavam longe de acontecer e o que valia de fato era a beleza com que eram feitas as jogadas.

Para falar de futebol, o diretor apropria-se da figura de Manuel Francisco dos Santos (1933-1983), o Mané Garrincha, um jogador bem acima do normal, elogiado pelo grande público que o vê como sendo quase um herói. Mas ele é um herói contraditório: apesar de salvar o futebol da mediocridade, é um herói alcoólatra, é um herói com tendência a engordar, é um herói que está sempre cansado, é um herói que não gosta de trabalhar... Ai, que preguiça!

Divindade do futebol? Ricos e pobres, nobres e plebeus, políticos da situação e da oposição: em procissão, todos procuram por Garrincha. Mas que Garrincha? Garrincha tem muitas faces. Se em seu olimpo, o campo de futebol, parece ser um deus, fora das quatro linhas nada mais é do que o mortal Manuel, aquele menino pobre que, quando nasceu, ouviu de um anjo torto: “Vai, Mané, vai ser gauche na vida”. E parece que entendeu tão bem que até com pernas tortas chegou ao mundo!

Garrincha, alegria do povo
(1962)

Direção: Joaquim Pedro de Andrade
Roteiro: Luiz Carlos Barreto, Armando Nogueira, Mário Carneiro, Joaquim Pedro de Andrade, David Neves
Gênero: documentário
Origem: Brasil
Duração: 60 minutos
Para saber mais
ANDRADE, Carlos Drummond de. Quando é dia de futebol. Rio de Janeiro: Record, 2002.
BARTHOLO, Tiago Lisboa; SOARES, Antônio Jorge Gonçalves. Mané Garrincha como síntese da identidade do futebol brasileiro. Movimento, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 169-191, jan.-mar. 2009.
RODRIGUES, Nelson. À sombra das chuteiras imortais: crônicas de futebol. Seleção e notas de Ruy Castro. São Paulo: Companhia das Letras, 1993. [Veja vídeo de 1995 produzido pelo Canal 100]

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